Comecemos por Hollywood

Em 09 setembro 2009
Por Anderson Silva

Foto: www.travelinlocal.com

Por Amauri Terto

Neste nove de novembro de dois mil e nove o mundo acontece de maneira curiosa e excitante. Na Malásia, um casamento coletivo de 200 casais; na rede Cinemark, filmes nacionais com ingressos a R$2,00; na capital alemã celebra-se os 20 anos da queda do Muro; em São Bernardo do Campo a UNE (União Nacional dos Estudantes) protesta contra a universidade que expulsou estudante que foi para a aula de vestido curto, e na numerologia a previsão é de que hoje encerremos ciclos com meditação e caridade.

É neste clima eufórico que o Pop ‘n’ Cult nasce, com a proposta de reunir informação, novidade e pontos de vista sobre cultura tão curisosos e excitantes quanto os fatos do dia. E toda segunda-feira o cinema será nosso ponto de partida. O cinema como entretenimento, como ferramenta para se pensar o mundo, como registro de uma época, como instrumento social, como veículo de propagação de idéias… Cinema e suas infinitas possibilidades. Peço que releia este parágrafo e pense em um filme para cada função citada que o cinema pode assumir, caso não consiga, não se preocupe, você está no blog certo. Aqui buscaremos juntos os diferentes significados da dita sétima arte para o nosso cotidiano.

Hoje pensar em cinema é ir além do escurinho com pipoca. O início do séc. XX foi seu auge, com salas lotadas em seus berços, simultaneamente EUA e França. No entanto seu formato tradicional, com poltronas e telas gigantes, é agora apenas umas das opções para se fazer cinema dentro do universo audiovisual. A televisão, os videogames, os sistemas ferramentas digitais e a internet são concorrentes poderosos nessa sociedade adoradora da imagem.

Mas dentro deste cenário ainda existe alguém que domina, ou melhor, um império que se mantém estabelecido quando se fala em cinema. Hollywood é seu nome. Se você leu aquele segundo parágrafo no início deste texto e não conseguiu identificar na memória filmes que fujam do formato entretenimento é porque Hollywood está aí. Hoje ele sofre declínio com quedas de bilheteria generalizadas, mas consegue se reinventar, atualmente com as franquias de adaptação de histórias em quadrinhos, mas isso fica para outra hora. Por agora aproveito a repetição do número nove neste data e listo nove passos fundamentais para se estabelecer uma Hollywood na história do mundo:

1º passo – Esteja no lugar certo com as pessoas certas

O início do cinema começou com a disputa a comercialização de aparelhos de projeção criados quase que simultaneamente pelos franceses e irmãos Lumière (cinematógrafo) e o norte-americano Thomas Edison (vitascópio). Edison era um inventor versátil e também sortudo. Com a lei estadunidense de patentes conseguiu sair na frente e eliminar a concorrência com os Lumière nos EUA.

2ª passo – Junte-se com seus pares e seja do contra

Carl Laemmle é o nome do cara que foi na contramão de Thomas Edison. Descontente com o domínio do inventor reuniu-se com pequenas empresas concorrentes de Edison em Los Angeles e com fusões aqui e ali, criou a Universal Pictures, o primeiro grande estúdio norte-americano. Daí foi um pulo para surgir em seguida a Paramount e a Fox.

3º passo – Seja do tipo controlador ao extremo I

Os grandes estúdios controlavam as três etapas fundamentais do cinema: produção das películas, distribuição e exibição.

4º passo – Seja do tipo controlador ao extremo II

Dentro dos estúdios eram os produtores que tinham plenos poderes (em relação ao conteúdo, atrizes, atores, montagem e etc.). O diretor pouco opinava nos filmes.

5º passo – Monopolize geral

Em 1920 os grandes estúdios dominavam não só o mercado norte-americano como também boa parte no mundo, o Brasil incluso nessa. Controle vertical: estava nas mãos deles a produção, distribuição e exibição. O cinema passou a ser uma das atividades mais lucrativas da economia norte-americana.

6º passo – Divida o pão

Estabelecida a indústria cinematográfica norte-americana, os grandes estúdios passaram a se especializar por gênero. Cada um atendendo a uma fatia do mercado. Como cada gênero de filme tinha suas peculiaridades, a especialização proporcionou aos diretos e roteiristas produzir fórmulas de sucesso de bilheteria.

7º passo – Mire no alvo certo

A segmentação dos filmes em gêneros foi das primeiras estratégias previamente pensadas pelos grandes estúdios para aumentar o número de espectadores. Existia um filme para cada tipo de espectador: o desenho animado para crianças, aventuras e gângster para homens e assim por diante.

8º passo – Tenha altíssimo padrão de qualidade

O bom filme para Hollywood era o que tinha começo, meio e fim (feliz de preferência). Essas coordenadas eram seguidas à risca. Eram tomados todos os cuidados para assegurar a satisfação dos espectadores, pois era preciso que estes voltassem na semana seguinte.

9º passo – Vá para a proa e grite: “I`m the king of the world!”

O cinema norte-americano com sua intensa lucratividade anual passou a ser elementar para as estratégias de política externa do país. Seu cinema é um poderoso veículo de propaganda do modo de vida americano, e assim exerce no subconsciente das pessoas de todo o mundo o poder brando, através do domínio cultural.

Resumidamente foram estes nove fatos que marcaram o nascimento de Hollywood. E se hoje nove dos dez filmes que estão em cartaz nas salas multiplex que você frequenta são produções norte-americanas, é porque qualidade, investimento do governo e puxões de tapete fizeram e ainda fazem parte do jogo da (ainda) mais lucrativa indústria de cinema do mundo.

Mas já ouvi falar que nenhum império dura para sempre.